Por Leila Barros – Senadora pelo Distrito Federal
Só em 2025, dezessete mulheres foram assassinadas no Distrito Federal. Dezessete histórias interrompidas. Dezessete famílias devastadas. E por trás de cada número, uma vida que deveria ter sido protegida.
Tenho dedicado boa parte do meu trabalho à defesa das mulheres. Quando estive à frente da liderança da Bancada Feminina no Senado, ao lado de senadoras combativas e comprometidas, conseguimos aprovar legislações importantes, fortalecer as redes de proteção e ampliar políticas públicas voltadas à segurança e autonomia das mulheres. Mas confesso: muitas vezes, a sensação é a de estar enxugando gelo.
Enquanto avançamos em marcos legais, a realidade insiste em nos chocar diariamente com novos casos de violência. Casos brutais, que revelam uma sensação de impunidade tão grande que faz com que agressores se sintam à vontade para espancar, torturar e matar suas companheiras nos mais diversos contextos. Como no caso recente da Juliana, encurralada em um elevador e agredida com 61 socos, no Rio Grande do Norte, ou da Cheryla, esfaqueada e morta na saída da academia, no DF. Duas entre as milhares de mulheres agredidas e mortas por homens que as viam como propriedade.
Para se ter uma ideia, só em 2024 mais de 2.300 medidas protetivas foram desrespeitadas no DF. Isso significa que vidas estiveram ameaçadas enquanto deveriam estar protegidas. Essa insegurança me fez trabalhar para que as medidas protetivas deixassem de ser apenas um pedaço de papel. Fui relatora da Lei 15.125, que prevê o uso de tornozeleira eletrônica por agressores em casos de violência doméstica, permitindo o monitoramento em tempo real e dando às vítimas uma chance real de proteção.
Essa atuação se soma a outras conquistas importantes, como a Lei do Stalking, de minha autoria, que tipificou o crime de perseguição, a aprovação do pacote antifeminicídio, que aumenta as penas para esse crime brutal e à lei que destina, de forma permanente, 5% do Fundo Nacional de Segurança Pública para o enfrentamento à violência doméstica.
Mas nenhuma lei, por mais rigorosa que seja, será suficiente se caminharmos sozinhas. Só vamos conseguir vencer essa epidemia de violência contra a mulher e os feminicídios com o envolvimento de toda a sociedade. É preciso romper o silêncio, denunciar, acolher, educar e, acima de tudo, não compactuar com a cultura da violência. Cada pessoa tem um papel nessa luta, seja dentro de casa, nas escolas, no trabalho ou no poder público.
Não podemos naturalizar o medo dentro de casa, a vergonha em denunciar, a impunidade que estimula novos agressores. Meninas não podem crescer acreditando que violência é parte da vida. E mulheres não podem continuar morrendo por simplesmente dizerem “não”.
Estamos falhando como sociedade quando um feminicídio ou uma violência acontece. E para mudar isso, é preciso coragem. Coragem política, coragem institucional, coragem social. É essa coragem que me move.
Sigo lutando por leis mais rigorosas. Trabalhando para ampliar recursos destinados à proteção e acolhimento das vítimas. E principalmente, batalhando por educação, porque a violência contra a mulher é um problema estrutural. Só enfrentando suas raízes é que vamos mudar essa história.
Estamos no Agosto Lilás e, hoje, celebramos os 19 anos da Lei Maria da Penha, marcos no enfrentamento à violência contra as mulheres. Mas mais do que uma data simbólica, este momento precisa ser um chamado à ação de toda a sociedade. Porque enquanto houver uma mulher sofrendo calada, nós temos a obrigação de continuar gritando por ela. Isso não é exagero. É urgência. Chega!